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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Testemunhas da história ou os que não gostam de futebol


Todo o ser humano é testemunha da história. Durante sua vida, o desenrolar dos fatos em todas as áreas da sociedade vão se sucedendo, e cabe ao homem, exercendo um papel de observador sensível e analítico percebe-los. Existem ainda os que fazem a história, os protagonistas que com seus atos escrevem o destino. Alguns testemunharam a queda do muro de Berlim, outros as guerras mundiais, a revolução francesa, a ditadura militar, a eleição de Allende... Enfim, cada tempo deixa suas marcas eternas.
No futebol, poucos puderam conhecer a Hungria de 1954 e o Brasil de 50. Numa época com escassos recursos tecnológicos, os resquícios desses times são narrativas de rádio ou grandes textos dos que tiveram a cronológica sorte de vê-los em ação. Mas quero falar da minha geração, a geração da virada do século, onde a tecnologia invadiu o futebol e nos dá a possibilidade de uma partida ocorrendo na Espanha, Coréia, Qatar, Argentina ou qualquer outro gramado do mundo se refaça nas retinas de um fã de futebol no Rio de Janeiro, com apenas alguns segundos de atraso. Isso dá uma dimensão nova aos acontecimentos. Antigamente se dizia: "eu estava lá!", agora se diz: "eu vi". A possibilidade de ver a história se desencadear não tem mais limites geográficos.
E ao ver as partidas do Barcelona, percebo que estou vendo a história sendo feita. Assim como hoje falam do Santos de Pelé, Real Madrid de Di Stefano, Vasco de Edmundo (hehehe), Holanda de Cruyff... falarão daqui há 50 anos do Barcelona de Messi. E eu vou poder dizer que vi esse time jogar.
Vou contar dos toques de bola precisos, de um time que gostava de manter a bola em seus pés, não tinha nenhum medo ou receio dela, não tinha o afã de dar chutões. Um time de jogadores categóricos, com uma visão de jogo excepcional, não importando o quão retrancado o adversário entrasse, uma hora um lançamento preciso, genial, inapelável encaixaria e deixaria todos desarmados e inermes. Um equipe admirada pelos adversários que jamais colocam em dúvida seu brilhantismo. É raro a história deixar que onze jogadores com uma mentalidade tão parecida e um talento latente possam convergir em um mesmo time, ao mesmo tempo. O Barcelona não é só um time campeão, é um time que joga um futebol que alegra os olhos, um futebol técnico, imponente, rápido... Graças a times assim podemos chamar o futebol de arte. Quando o Barcelona perde, é acidente. Graças as derrotas de times assim podemos dizer que é impossível prever uma partida de futebol. Um time que ama tanto jogar futebol, que mesmo vencendo tudo, sendo os melhores, prosseguem com seriedade e treinamento. Relegando a segundo plano transferências milionárias, pagodes e campanhas publicitárias.


Um dos maiores

Já de Messi eu não vou falar nada. Basta que, daqui a cinqüenta anos, procurem no youtube o gigantesco acervo de jogadas lindas, inacreditáveis e fascinantes que ele faz. Os dribles rápidos e sucintos nos menores espaços, com a bola nos pés ele transforma uma jaula em um latifúndio de possibilidades. A exatidão em cada passe, em cada chute. A criatividade extraordinária que deixa todos sem reação. A única coisa que eu vou fazer quando meus netos, boquiabertos e maravilhados, estiverem assistindo do que o Messi foi capaz é ratificar que aquilo não é fruto de edições de jogos de uma vida toda. Todas aquelas jogadas aconteciam em cada jogo. Eu via o jogo do Barcelona esperando a hora em que o Messi ia fazer valer a pena ficar ali em frente a televisão, em qualquer dia, à qualquer hora. Não é a toa os assombrosos números de 52 gols e 23 assistências em 50 jogos. É um jogador completo, que joga para o time e para si. Como a frase de Cruyff: "Durante 87 minutos eu jogava para o time. Nos outros 3 eu jogava pra mim e mostrava do que era capaz". No mundo de hoje, tem "craque" que joga 90 minutos mais os acréscimo só para ele e não faz metade do que Messi faz.
Mas infelizmente existem aquelas pessoas que não sabem contemplar a história. Tem gente que em vez de agradecer a oportunidade que a vida deu de assistir um time que perdurará por muito tempo na memória do futebol, fica praguejando, diminuindo e torcendo contra. Prefere ver 19 milionários, de um time que torra mais de 6 dígitos por ano pra tentar se equiparar ao Barcelona colocar todos os jogadores atrás, para tentar de qualquer maneira resistir. E mesmo assim perde. Em casa.
Não sou contra retrancas, muito pelo contrário. Quando o Almería consegue segurar o Barcelona é uma das coisas que o futebol mais tem de precioso e belo. São onze caras normais, segurando uma equipe fenomenal. É Davi ganhando de Golias. É louvável o esforço. Mas a questão é a diferença atroz entre o orçamento e a história do Almería e do Real Madrid. E os madrileños vem com a marra de melhor do mundo e se prostram como um Real Potosí, com jogadores de uma qualidade inquestionável a seu favor. Sendo incapaz de enfrentar o Barcelona de igual para igual. Quando OUSOU TENTAR faze-lo, voltou com uma grande chinelada de 5 a 0 pra casa.
Então, a dica que fica para todos é: sejam menos rancorosos contra o Barcelona. Aproveitem a chance de ver um time fora de série jogar. O Real Madrid teve a sua vez nos anos 50, infelizmente não estávamos aqui para admirar (nem para ver a derrota deles pro Vasco em 57). Agora é a vez do Barcelona. Não fechem os olhos e façam biquinho pra história, tentem acompanha-la o mais de perto possível. É um prazer e uma honra.
Quando seus netos perguntarem sobre o Barcelona do Messi, você vai contar que ficava nervosinho, não gostava deles e torcia pra retranca do Real Madrid? Quantos avôs brasileiros, que cansaram de ver o time levando surra do Santos de Pelé não nos contam a história desse magnífico time, sem rancor, sem birra? Sejamos como eles, com a hombridade e a leveza de colocar o lendário acima da pequenez das picuinhas terrenas.

Os três melhores jogadores do mundo no mesmo time

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