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quarta-feira, 4 de maio de 2011

O sonho de Cabañas

Salvador Cabañas, nosso grande herói, estava dormindo numa noite serena e estrelada em Assunção. Ele lembrava dos seus gols no Maracanã, onde derrotou a já "consolidada" equivocada e antecipadamente classificação da imunda corja vermelha e preta. Nos seus pensamentos lúdicos, ele rememorava cada expressão de decepção latente, quando a arrogância e a certeza viram dor, miséria e incredulidade. A felicidade no rosto de cada criança sul americana, o grito preso na garganta finalmente libertado, ensurdecendo cada pseudo-vencedor auto proclamado.
No sonho de Cabañas, cada equipe sulamericana, não importando seu país, sua história, seus heróis, deveria ter, ao menos uma vez, a glória de puxar o tapete vermelho brasileiro e deixa-los cair de cara na lama suja da derrota. Uma noite de surpresas, alegrias e superação para todos. Sem distinção de país, credo, títulos ou cores. Era essa a utopia de Cabañas.
Ao acordar, Cabañas foi assistir as partidas da libertadores. E assim que ele acaba de colocar seu suco de acerola em cima da mesa, o Inter abre o placar. Ele fica triste, sentia a vontade de estar lá no Beira Rio para liderar o Peñarol ao seu momento de quebra-pandeiros. Seu desânimo era evidente, mas ele conservava um brilho no olhar que somente os que acreditam na libertadores e sabem do que ela é capaz podem ter. Esse mesmo brilho das retinas de Cabañas iluminaram os cinco minutos da virada do Peñarol. Após isso, uma retranca exemplar, tipicamente uruguaia, do gênerio uruguayus retrancadus foi aplicada, para o desespero dos colorados. A libertadores tem memória de elefante, ela lembrou de cada gol cagado e cada classificação obtida nos gols fora de casa durante o ano passado. Ela cobrou caro. E o Inter, ineficaz, inerme e trancado pelas correntes amarelas e pretas, agonizou durante 40 minutos até desfalecer.
Cabañas sorriu. Já sentia que seu devaneio fora transposto ao real. Viu mais heróis serem consagrados e foi assistir os outros jogos sereno, com a sensação de dever cumprido. Mal podia imaginar que a libertadores é fiel com quem lhe honra, escutou suas preces e trabalhou para realizar o impossível.
Os azuis, munidos de Victorino e Montillo, duas bombas nucleares quando se trata de libertadores, entrou em campo em casa com a vantagem contra o Once Caldas. Parece que tem tudo a seu favor. Porém, isso é libertadores. Onde ser brasileiro é ruim e favorito pior ainda. O Once Caldas, sob a égide de Henao, faz dois gols e derruba a torre de babel brasileira. O imitador de saci rebolativo Rentería saiu vitorioso e o mar azul da torcida do Cruzeiro irá, novamente, sofrer tormentas de lágrimas. Nesse momento, com as mãos entrelaçadas e os olhos marejados, Cabañas ergue o rosto reluzindo a luz branca e pura da lua, agradecendo todos os desígnios divinos que conduziram o Once Caldas a vitória. Quando volta para frente de sua televisão, vê o placar em 1 a 0 para o Libertad, que necessita de mais um gol para chutar mais um brasileiro de volta pra casa. Cabañas está inquieto, começa a supor que está pedindo demais e abusando da benevolência dos Deuses a desejar mais um gol do Libertad. Os Deuses, às vezes tão cruéis e sádicos, mostram toda a sua complacência com quem lhe é devoto e pregador de suas palavras. Não dão apenas mais um gol do Libertad, mas sim dois. No momento em que a bola balança a rede do Fluminense pela terceira vez, a emoção de Cabañas transborda numa lágrima, que caí diretamente no escudo do Libertad em sua camisa. Eles estão abençoados. A vaga é deles.
Devido a todo esse furacão de emoções, Cabañas esqueceu que o Universidad Católica chutava cachorro morto no Chile e eliminava o Grêmio.
Uma noite onde todos os heróis bradassem a vitória em uníssono, quando as vitórias dispersas e dissonantes se juntassem numa só melodia. Esse era o sonho de Cabañas. Prontamente atendido pelos Deuses da Libertadores, em respeito a um de seus maiores sacerdotes nessa noite de quarta feira. O que estará guardado para o Santos?

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Testemunhas da história ou os que não gostam de futebol


Todo o ser humano é testemunha da história. Durante sua vida, o desenrolar dos fatos em todas as áreas da sociedade vão se sucedendo, e cabe ao homem, exercendo um papel de observador sensível e analítico percebe-los. Existem ainda os que fazem a história, os protagonistas que com seus atos escrevem o destino. Alguns testemunharam a queda do muro de Berlim, outros as guerras mundiais, a revolução francesa, a ditadura militar, a eleição de Allende... Enfim, cada tempo deixa suas marcas eternas.
No futebol, poucos puderam conhecer a Hungria de 1954 e o Brasil de 50. Numa época com escassos recursos tecnológicos, os resquícios desses times são narrativas de rádio ou grandes textos dos que tiveram a cronológica sorte de vê-los em ação. Mas quero falar da minha geração, a geração da virada do século, onde a tecnologia invadiu o futebol e nos dá a possibilidade de uma partida ocorrendo na Espanha, Coréia, Qatar, Argentina ou qualquer outro gramado do mundo se refaça nas retinas de um fã de futebol no Rio de Janeiro, com apenas alguns segundos de atraso. Isso dá uma dimensão nova aos acontecimentos. Antigamente se dizia: "eu estava lá!", agora se diz: "eu vi". A possibilidade de ver a história se desencadear não tem mais limites geográficos.
E ao ver as partidas do Barcelona, percebo que estou vendo a história sendo feita. Assim como hoje falam do Santos de Pelé, Real Madrid de Di Stefano, Vasco de Edmundo (hehehe), Holanda de Cruyff... falarão daqui há 50 anos do Barcelona de Messi. E eu vou poder dizer que vi esse time jogar.
Vou contar dos toques de bola precisos, de um time que gostava de manter a bola em seus pés, não tinha nenhum medo ou receio dela, não tinha o afã de dar chutões. Um time de jogadores categóricos, com uma visão de jogo excepcional, não importando o quão retrancado o adversário entrasse, uma hora um lançamento preciso, genial, inapelável encaixaria e deixaria todos desarmados e inermes. Um equipe admirada pelos adversários que jamais colocam em dúvida seu brilhantismo. É raro a história deixar que onze jogadores com uma mentalidade tão parecida e um talento latente possam convergir em um mesmo time, ao mesmo tempo. O Barcelona não é só um time campeão, é um time que joga um futebol que alegra os olhos, um futebol técnico, imponente, rápido... Graças a times assim podemos chamar o futebol de arte. Quando o Barcelona perde, é acidente. Graças as derrotas de times assim podemos dizer que é impossível prever uma partida de futebol. Um time que ama tanto jogar futebol, que mesmo vencendo tudo, sendo os melhores, prosseguem com seriedade e treinamento. Relegando a segundo plano transferências milionárias, pagodes e campanhas publicitárias.


Um dos maiores

Já de Messi eu não vou falar nada. Basta que, daqui a cinqüenta anos, procurem no youtube o gigantesco acervo de jogadas lindas, inacreditáveis e fascinantes que ele faz. Os dribles rápidos e sucintos nos menores espaços, com a bola nos pés ele transforma uma jaula em um latifúndio de possibilidades. A exatidão em cada passe, em cada chute. A criatividade extraordinária que deixa todos sem reação. A única coisa que eu vou fazer quando meus netos, boquiabertos e maravilhados, estiverem assistindo do que o Messi foi capaz é ratificar que aquilo não é fruto de edições de jogos de uma vida toda. Todas aquelas jogadas aconteciam em cada jogo. Eu via o jogo do Barcelona esperando a hora em que o Messi ia fazer valer a pena ficar ali em frente a televisão, em qualquer dia, à qualquer hora. Não é a toa os assombrosos números de 52 gols e 23 assistências em 50 jogos. É um jogador completo, que joga para o time e para si. Como a frase de Cruyff: "Durante 87 minutos eu jogava para o time. Nos outros 3 eu jogava pra mim e mostrava do que era capaz". No mundo de hoje, tem "craque" que joga 90 minutos mais os acréscimo só para ele e não faz metade do que Messi faz.
Mas infelizmente existem aquelas pessoas que não sabem contemplar a história. Tem gente que em vez de agradecer a oportunidade que a vida deu de assistir um time que perdurará por muito tempo na memória do futebol, fica praguejando, diminuindo e torcendo contra. Prefere ver 19 milionários, de um time que torra mais de 6 dígitos por ano pra tentar se equiparar ao Barcelona colocar todos os jogadores atrás, para tentar de qualquer maneira resistir. E mesmo assim perde. Em casa.
Não sou contra retrancas, muito pelo contrário. Quando o Almería consegue segurar o Barcelona é uma das coisas que o futebol mais tem de precioso e belo. São onze caras normais, segurando uma equipe fenomenal. É Davi ganhando de Golias. É louvável o esforço. Mas a questão é a diferença atroz entre o orçamento e a história do Almería e do Real Madrid. E os madrileños vem com a marra de melhor do mundo e se prostram como um Real Potosí, com jogadores de uma qualidade inquestionável a seu favor. Sendo incapaz de enfrentar o Barcelona de igual para igual. Quando OUSOU TENTAR faze-lo, voltou com uma grande chinelada de 5 a 0 pra casa.
Então, a dica que fica para todos é: sejam menos rancorosos contra o Barcelona. Aproveitem a chance de ver um time fora de série jogar. O Real Madrid teve a sua vez nos anos 50, infelizmente não estávamos aqui para admirar (nem para ver a derrota deles pro Vasco em 57). Agora é a vez do Barcelona. Não fechem os olhos e façam biquinho pra história, tentem acompanha-la o mais de perto possível. É um prazer e uma honra.
Quando seus netos perguntarem sobre o Barcelona do Messi, você vai contar que ficava nervosinho, não gostava deles e torcia pra retranca do Real Madrid? Quantos avôs brasileiros, que cansaram de ver o time levando surra do Santos de Pelé não nos contam a história desse magnífico time, sem rancor, sem birra? Sejamos como eles, com a hombridade e a leveza de colocar o lendário acima da pequenez das picuinhas terrenas.

Os três melhores jogadores do mundo no mesmo time

terça-feira, 26 de abril de 2011

Palpitão das oitavas


Oitavas de final da libertadores! Chegou a hora dos cartões vermelhos serem distribuídos como balas em dia de Cosme e Damião, o momento em que as pedras voam para o gramado, os carrinhos ficam ainda mais brutos, as retrancas ainda mais coesas e os choros mais derradeiros. Agora não tem mais espaço para mediocridade (escutaram, Santos e Fluminense?). Heróis se consagram, falsos profetas são desmascarados. É a hora do mata-mata. Todos os picos da cordilheira dos andes irão se inclinar para testemunhar as batalhas pelo título de time mais homem do continente, e por conseguinte, do mundo.
Não existe mais espaço para empates. Ou você passa, ou morre pelo caminho. E as mortes, meus amigos, são sempre dolorosas.

Vamos aos confrontos:

Cruzeiro x Once Caldas:
Infelizmente, creio que o Cruzeiro ainda terá uma sobrevida nesta libertadores. Apostando em talentos típicos dessa competição, que tanta alegria nos ocasionaram ano passado como Montillo e Victorino, o Cruzeiro eliminará o Once Caldas do rebolativo Rentería.

Santos x América-MEX:
Chegou a hora de Neymar conhecer as mãos e os cachos de Ochoa. O Santos já sentiu o peso da camisa amarela do América em outros carnavais. Sob a batuta de Cabañas, foram eliminados em 2008. E creio que serão novamente esse ano. Embora a equipe do América dependa exclusivamente dos garras imbatíveis de Ochoa e do talento de Montenegro e Vuoso, é mais consistente que o time do Santos e sua campanha patética na primeira fase. Além do mais, Muricy tem histórico de tremer em libertadores. E times de garotos geralmente não vão muito além das oitavas.

Jaguares x Junior Barranquilla:
Dois time que não empolgam. O Jaguares conseguiu levar uma chinelada do time apático do Inter e o Junior teve a sorte de cair no grupo mais patético, horrendo e ordinário das últimas libertadores. Seu único pseudo concorrente foi o desarrumado e limitado time do Grêmio. O camisa 10 é habilidoso e a retranca deles é interessante, acho que na Colômbia eles podem se impor e garantir a classificação para, provavelmente, morrer nas quartas de final.

Estudiantes x Cerro Porteño:
O Estudiantes tenta se reerguer. Após a saída de Alejandro Sabella, os pinchas parecem meio perdidos, sem o volume de jogo e a organização dos últimos anos. Mas o time continua bom, a base se mantém e jogadores como Verón, Desábato, Braña e Pérez podem continuar fazendo a diferença. O Cerro Porteño deve apostar todas as suas fichas em Barreto, o homem que detém as chaves do cadeado do gol. Nem mesmo o mais forte dos ventos elísios são capazes de balanças as redes que jazem por trás de Barreto. Nanni pode tentar guardar o dele, o que eu acho bem provável aliás, mas não creio que será o suficiente. No máximo o Cerro consegue arrumar uma pancadaria típica no final.

Fluminense x Libertad:
O Fluminense já está fazendo hora extra na libertadores. Após uma campanha lamentável e desprezível, se classificando pelos gols marcados, chegou a hora do Fluminense finalmente cair na cova que a libertadores já cavou há tempos para ele. Só falta colocar a data da morte na lápide e os sete palmos de terra por cima. O roteiro desse jogo já está escrito, o Fluminense irá menosprezar o Libertad, ir pleno da típica arrogância brasileira, crente crente que é guerreiro, boleiro, vencedor e habilidoso. Sabe qual será o resultado disso? Tomar gols do Pavlovich e desarmes do Victor Cáceres. O Libertad não é nenhum esquadrão, mas sabe tocar bola, soube se impor no seu medíocre grupo. A única chance do Fluminense é os Deuses da Libertadores apreciarem uma boa ironia e quererem colocar eles frente a frente a LDU de novo, para tomarem uma surra em Quito de novo e descer os três mil metros coçando a bunda quente e vermelha com os olhos cheios de lágrimas, de novo.

Vélez Sarsfield x LDU:
O melhor jogo das oitavas. Dois times bons, dignos de ir mais longe. O Vélez apesar do bom time fez uma campanha inconstante em um grupo menos forte que o da LDU. E tem o costume feio de tremer quando é necessário ter brios e crescer. Foi assim contra o Chivas ano passado. A LDU vem de um grupo pesado, com outros três times arrumados que poderiam facilmente estar nessas oitavas não fosse o capricho do sorteio dos grupos. Ela terminou em primeira no grupo, mostrando que não tem medo de cara feia, jogando bem fora de casa pois tem um time arrumado e interessante e enrabando tudo e todos em Casablanca. Será uma grande batalha, mas a LDU fará uso do fator oxigênio escasso e passará.

Peñarol x Internacional:
O Peñarol finalmente voltou a dar as caras na libertadores. É gostoso ver time com torcida e história novamente. O time não é lá essas coisas, não chega a ser fraco, porém falta solidez na zaga e criatividade no meio. Conseguiu passar na base do abafa e da camisa, meio cagado. O Inter, safado e sortudo, com seus argentinos capitaneando o elenco, é favorito. Mas não deve passar sem um sufoco característico. O Inter tem se especializado ultimamente em passar sufoco, contra o Peñarol não vai ser tão fácil como alguns possam presumir....

Grêmio x Universidad Católica:
Eu vi esse time do Católica ao vivo na Argentina, contra o Vélez. Eles demonstram claramente uma coisa: Eles tem brio e colhão. Viraram um jogo que parecia perdido, cairam pra dentro e fizeram barulho na casa do adversário. O time sabe tocar bola, criar jogada, retrancar, catimbar... não é a toa que ganhou o chileno. Os times da terra de Allende (morte aos americanos golpistas, viva los trabajadores!) vem numa ascendente ano após ano. E o representando deles esse ano é o Católica, já que a maldição dos espíritos dos espanhóis mortos pelas mãos mapuches continuam trabalhando pela eliminação do Colo Colo na libertadores. Contam com dois ex-vascaínos, o intelectual Villanueva e o Vergara. Além de Mirosevic. Mas grande estrela da companhia parece ser Lucas Pratto, argentino alto, forte, finalizador que anda aterrorizando todos e guardando seus gols. O time do Católica pode ir longe esse ano.
Já o Grêmio... o que falar de um time que perde de 3 a 0 do Oriente Petrolero e empata com o León de Huánaco.... acho que isso já resume o que é o Grêmio. Outro que tá fazendo hora extra, mas não por muito tempo.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Pureza de um Menino: Juan Ignacio Mercier

I. A infância

Juan Ignacio Mercier nasceu numa pequena cidade no interior da argentina, na casa de uma família de descendência francesa que havia se enraizado na Argentina já há mais de cinquenta anos. A casa dos Mercier era uma movimentada, o pequeno Mercier cresceu em um ambiente que exalava cultura e arte, os vizinhos costumam chamar a antiga mansão Mercier de "Museu cultural" e "Louvre porteño". O pequeno Mercier desde cedo mostrou interesse e aptidão para livros,vivendo na biblioteca do avô, onde aos 5 anos havia lido Sartre, Robespierre, Vitor Hugo e Balzac em francês. Porém, o que mais encantou o jovem Mercier foram as fábulas de La Fontaine. Mercier se emocionava lendo e relendo histórias encantadoras como "A lebre e a tartaruga".


Verón se desequilibra tentando dominar a bola e Mercier, sempre gentil, tenta equilibra-lo esticando seu pé para servir de apoio.

Mercier sempre foi um garoto tímido, admirador de livros e filmes. Um fato da infância que a Sra. Mercier, mãe do jogador recorda com detalhes, se deu quando ele tinha apenas 11 meses e aprendendo a falar balbuciou para a mãe: "Maman j'ai faim. Pourriez-vous s'il vous plaît donner un peu de nourriture pour moi?", já demonstrando a gentileza e a polidez, seus traços marcantes até hoje, desde a mais tenra idade. "Ele nunca chorou" recorda a mãe "Sempre pedia as coisas da maneira mais gentil possível".
Enquanto não estava lendo livros, Mercier costumava assistir filmes de romance ou com animais. Bud 5 e os 101 dálmatas eram uns dos seus favoritos. Ele nunca gostou de filmes de guerra e terror, diz ele "Com tantas coisas belas para mostrar no mundo, tantos animais, as flores, o sol se pondo na praia, as crianças brincando com os cachorros... não sei porque assistir um filme que só mostra coisas horríveis, coisas tristes que não deveriam existir". O filme que mais marcou a vida de Mercier foi "A Felicidade Não se Compra" de Frank Capra. "Chorei até soluçar, é uma história linda, passa uma mensagem tão harmoniosa e positiva", fala o emocionado jogador.
Mas aos 14 anos, acontece uma coisa na vida do pacato e instrospectivo Mercier. Ele passa por um campinho onde garotos jogavam futebol. Ele nunca se interessou por esse esporte porque sempre via as pessoas se ofendendo e agredindo-se, nunca havia passado pela cabeça dele participar de algo tão rústico, violento e feroz. Porém, havia algo de diferente neste dia. Um garoto careca de cavanhaque estava jogando. Era um menino novo na vizinhança, ninguém o conhecia muito bem. As meninas já se derretiam por aquele forasteiro de cavanhaque, mas Mercier nunca havia o visto. Ele parou para olhar o rapaz que conduzia a bola como um lorde, ereto, de cabeça erguida e com utileza, precisão e habilidade extremas. Neste momento Mercier ficou estático, de olhos arregalados, observando aquele homem flutuar pelo gramado como um albatroz branco sob as aguas cristalinas do mar báltico iluminado pelo sol da manhã. Era como se ele jogando recitasse as mais belas poesias, tocasse as mais formosas sinfonias. Mercier não deve dúvidas de que era aquela arte que ele queria fazer, juntar todas as mais belas formas de expressão do sentimento humano no movimento de seu corpo com a bola nos pés. O nome daquele menino de cavanhaque era Juan Sebastián Verón.
A partir daí, Mercier entrou no mundo do futebol. Ele começou a fazer arte no ambiente bruto e a tecer as mais formosas manifestações de beleza pelos gramados. Logo chamou a atenção de quem jogava naquele campinho humilde na esquina das ruas 25 de Mayo e San Martín o comportamento daquele rapaz em campo. Ele pedir licença aos adversários antes de desarma-los e se relacionava tanto com seus companheiros quanto com seus adversários sempre com cortesia e respeito. Enquanto os outro jogadores gritavam: "Toca a bola, porra!" Mercier dizia com uma voz leve e terna: "Por obséquio, você poderia fazer a gentileza de passar a bola para nossos companheiros?". E assim, com nobreza ele ia conquistando cada vez mais espaço, até se tornar um dos melhores jogadores do bairro.

Mercier dando carinho e apoio ao seu companheiro que tinha acabado de desperdiçar um pênalti: "Calma, tudo bem. Acontece, você é forte e vai superar" dizia ele


II. A adolescência, o primeiro amor e a viagem a França

Ganhando o respeito e a admiração de todos, Mercier conquistou mais uma coisa. A mais importante das coisas que ele poderia conquistar: o coração da bela Consuelo. Mercier conta de como foi seu primeiro contato com a jovem: "Quando o primeiro tempo acabou e eu ia me retirar do gramado eu a vi pela primeira vez. Tinha olhos tão puros, tão gentis...os cabelos balançavam ao vento como o cabelo do Miralles, de maneira tão delicada... Percebi que ela era uma garota especial". Devido a sua timidez e recato, Mercier guardou esse sentimento com ele durante algumas semanas. Todas as noites ele lia poesias e escutava canções de amor enquanto pensava no rosto de sua amada. Até que um dia, quis o destino que os dois se encontrassem numa floricultura. Consuelo foi ao encontro de Mercier e disse: "Você não é aquele rapaz que joga futebol como quem declama um poema?" ele, visivelmente encabulado respondeu: "É o que eu tento fazer. Levar ternura aos corações de quem me vê jogar". Nesse momento, Mercier entrega uma rosa vermelha a Consuelo e diz: "Mas os teus olhos castanhos irradiam mais ternura do que eu jamais poderei alcançar, doce Consuelo". E os dois saem de mãos dadas para passear pela praça.
Dois meses depois, acontece o momento mais belo desse relacionamento. Em uma noite de céu azul marinho, onde as estrelas iluminavam o céu com a luz imaculada que lhes é característica, após um jantar a luz e velas e alguns vinis do Barry White, Consuelo se entre a Mercier e os dois consomem fisicamente seu amor entre lençois brancos e o perfume de jasmin que os envolvia na cama. Consuelo sente as lágrimas de Mercier escorrendo lentamente pelo seu ombro e pergunta o que houve, Mercier diz que aquele foi o momento vai especial da vida dele, que ele vai guardar pra sempre aquela noite em seu coração.
Infelizmente a lua de mel tinha seus dias contatos. Poucas semanas depois, os pais de Mercier decidem o mandar para terminar seus estudos na França, Mercier discorda, dizendo que a "educação na Argentina é de um nível de excelência que dispensa a obrigatoriedade de uma especialização em outro país e que a felicidade dele mora na Argentina, onde ele tem o futebol e a Consuelo." No entanto, seu esforço e argumentos polidos foram em vão. Naquele chuvoso 12 de junho, Mercier embarcava para Paris. No avião, ainda tomado por um profunda tristeza por haver perdido as duas maiores satisfações de sua vida, Mercier volta a se apegar aos livros, lendo "Les fleurs du Mal" de Baudelaire. Ao chegar na cidade francesa, Mercier faz diversas faculdades incluindo pós-graduação em Etiqueta e boas maneiras, Doutorado em literatura francesa e latinoamericana, e também pequenos cursos sobre vinhos (chegando a se tornar inclusive um dos enólogos mais renomados da região de Bordeaux), bons modos à mesa, como ser portar extremamente respeitosas. Sua tese de doutorado entitulada: "Respeito, Gentileza e Cortesia, uma historiografia do comportamento educado do homem desde a era primitiva até a sociedade pós-industrial" rendeu elogios por acadêmicos respeitados em toda a europa, culminando em sua nomeação pro Prêmio Nobel da Gentileza, se juntando a nomes como Gandhi, Supernanny, Gloria Kallil Profeta Gentileza e Madre Teresa de Calcutá. Mas ainda havia uma lacuna em sua vida, apesar de todo o êxito como teórico do bom comportamento, ele sentia de deveria voltar para resgatar seu destino. Nos meses seguintes, Mercier trabalharia como consultor de boas maneiras, tendo como alunos toda a aristocracia inglesa, belga e austríaca enquanto programa seu retorno a américa do sul.


Mercier dando entrevista após receber o prêmio Nobel de educação por sua tese "Le respect, gentillesse et de courtoisie, une historiographie de la politesse des l'homme depuis les temps primitifs à la société post-industrielle"


III. A volta à Argentina e a consagração no futebol

Logo após receber o título de embaixado de boas maneiras e educação da ONU, Mercier decide que é hora de voltar a sua casa. A saudade da família e do futebol está grande demais para ser guardada em seu coração. Em sua volta, Mercier é recepcionado com grande alegria por todos que se surpreendem com a humildade intacta e o caráter irretocável do recém chegado. Numa tarde de sábado, enquanto tocava violino com a destreza que lhe é peculiar, Mercier um homem grisalho, trajando um terno que logo seria elogiado por Mercier graças a sua elegância, lhe faz um convite inesperado. Mercier recebia a proposta de ser jogador do Argentinos Juniors.
Visivelmente comovido com o que acabara de ouvir, Mercier pede um tempo para ponderar a proposta e agradece o interesse demonstrado.
Mercier procura Consuelo, mas descobre ela está casada com Jorge González, conhecido no bairro como Jorgito, e ainda por cima grávida. Foi um duro golpe para esse gentleman de coração sensível e alma pura. Ele chorou como Simba ao presenciar a morte de Mufasa e como Bruno Souza após o fatídico 3 a 0 do América do México capitaneado por Cabañas em pleno Maracanã. Era como se as cataratas lacrimais do Iguaçu jogassem por seus olhos e decantasse em rios de tristeza e dor. Nesse momento difícil, Mercier fraquejou e ignorou toda sua postura distinta e fina e disse palavras como "sacanagem", "meretriz" e a mais pesada "merda".
Para a felicidade de todos os apreciadores da arte, não tardou para Mercier dar a volta por cima e liderar a equipe do Argentinos Juniors ao título do apertura em 2007, com seu toque fino, cabeça erguida e a tradicional cortesia para exibir-se no gramado como um Cisne branco alçando vôo pelo céu azul da manhã.


Mercier estupefato ao ver um companheiro de time segurar o talher de maneira incorreta

Mercier subindo no alambrado para resgatar o gatinho preso e indefeso de uma doce e meiga criança

Mercier é um exemplo de civilidade para todos. Um homem que dedicou a sua vida ao esforço para compreender como se trata bem as pessoas e passar essa mensagem de polidez e cortesia a todos. Admirador de arte, sensível, bondoso e gentil. Alguém que se recusa a fazer sexo casual pois crê que o amor é algo especial que deve ser feito somente com a pessoa amada. Um homem que se ofende e se revolta quando algum outro homem trata alguma mulher como mero objeto de prazer, porque segundo ele, a mulher tem a dádiva de dar a vida e isso tem por isso tem que ser respeitadas e amadas, tratadas com carinho, compreensão e generosidade sempre. Jamais relegadas a fontes de prazer.
Mercier é daqueles que os olhos se enchem de lágrimas ao ler um livro de romance antes de dormir, um homem sensível que se sorri ao ver o olhar puro e o abanar de rabo honesto de um cachorro. Que distribui flores aos seus entes queridos, abre a porta do carro para as pessoas entrarem e sempre está disposto a ajudar.
Agora o principal objetivo deste honrado gentleman é conduzir a equipe do Argentinos Juniors ao título da libertadores, jogando com seus toques mais refinados que pratos franceses e mais esplendorosos que os quadros renascentistas. Com sua coluna ereta e cabeça erguida, planando como um sommelier em um restaurante chique, comandando todos com seus gestos sutis.
Fora das quatro linhas, ele criou a Fundação Mercier, um instituto que visa tirar jovens da rua e praticar uma política de inclusão social fundamentada em conhecimento de vinhos, quadros de Monet e esculturas de Rodin. Alguns dos seus alunos já fazem estágio no Louvre, onde recentemente foi inaugurada a Sala Juan Mercier, que já está repleta de obras marcantes do período romântico do séc. XVIII e é uma das mais visitadas do famoso museu francês.

Libertadores, una mariposa traicionera

"Eres como una mariposa
vuelas y te posas vas de boca en boca
facil y ligera de quien te provoca

Yo soy raton de tu ratonera
trampa que no mata pero no libera
vivo muriendo prisionero
Mariposa traicionera
todo se lo lleva el viento"


Uma musa encantadora, irresistível, estonteante. Te atrai como o canto de Iara, hipnótico e inerme, direto para a escuridão das profundezas soturnas e macabras dos rios. O rio de lágrimas chilenas em que o Colo Colo foi aprisionado na noite de hoje, mais uma dessas perfídias armadilhas da libertadores. Dilacera o coração ver o dorso forte e os braços torneados de Scotti serem a propagação da profunda tristeza.
Novamente a libertadores mostra seu lado mais cruel. Rasgando sonhos como se fossem folhas de papel molhado, transformando a ilusões em chicotes que deixar as mais sangrentas e pulsantes feridas na alma. O que se aprende a cada libertadores é o mesmo braço que acalenta e dá a fora, é o que enforca até a última partícula de oxigênio se exaurir do corpo. A mão que acaricia é a mesma que apedreja. A libertadores dá e tira de acordo com seus caprichos. As emoções mais intensas são apenas joguetes para os Deuses sulamericanos, a lógica nunca prevalece.
Mas também não devemos culpar somente as desventuras da libertadores. O Colo Colo colheu o que plantou, dispensar um homem com as qualidades metafísicas, cosmológicas e esotéricas de Rodrigo Meléndez é dar um tiro no pé. Com a malandragem indígena de cinco milênios, a história poderia ser diferente. A libertadores condecora seus ídolos com toda a gloria e honraria, já pôs Cabañas, Cevallos e Schiavi sacrossantos em seus santuários revestidos com a prata pura de potosí e o reluzente ouro de Cusco. A marcação abutre poderia evitar o desastre.

Entretanto, nem tudo é dor no reino latinoamericano. A libertadores escreve por linhas tortas, o time do Cerro é porradeiro, já demonstrou isso inúmeras vezes. Capitaneados por Nani, Barreto e Villarreal podem dar alegria aos latinos. O gol de Oberman contra o Fluminense é prova de que a libertadores não se cansa de aprontar. O rebote improvável, o desvio oportuno e a bola subindo e descendo como uma estrela cadente por cima do goleiro brasileiro.
Às vezes ela machuca, outras ela alegra. Talvez seja por isso que todos nós a amamos.

Os Zagueiros


Ser zagueiro é medir forças contra o mundo. O zagueiro sabe que há muito mais coisas em um campo de futebol do que fazer gol. Qualquer um que paga ingresso, vê o jogo em sua poltrona ou simplesmente quer fazer dinheiro às custas do futebol quer ver o gol. O gol é o objetivo óbvio, é o senso comum futebolístico. Todo mundo sabe que é bom fazer gol e que a bola na rede define o placar. Entretanto, para a tristeza de muitos, existe o zagueiro. O zagueiro destrói, acaba com a festa e trava uma batalha contra a própria essência do esporte que pratica. Isso é mágico. Todo zagueiro trava sua batalha longe dos holofotes. Aquele desarme perfeito, a antecipação que impede uma chance clara de gol, a cabeçada pra longe... nada disso aparece nos melhores momentos. Cada sobreposição do zagueiro é seguida por um lamento adversário e nem sempre ganha um agradecimento dos próprios torcedores. É aquela velha história, o atacante que perde três gols e faz um é héroi. O zagueiro que é impecável todo jogo e erra um corte, é vilão. Um bruto grosseiro e estúpido que faz besteiras na defesa e lá foi relegado por não conter habilidade suficiente para jogar no ataque. A mesma máxima vale para o goleiro. Este axioma clássico sintetiza bem a perspectiva banal referente aos zagueiros.
Não são valorizados como os atacantes, são mais injustiçados que exaltados. Não se vê zagueiro em outdoor nas ruas, não se vê zagueiro em jornal especializado em fofoca. Raramente alguma criança diz que quer ser zagueiro. Eu mesmo, quando era um projeto de humano dizia que queria ser atacante e fazer gol. Típico de criança que reproduz tudo o que enxerga pela frente querendo se auto-afirmar. É uma pena que a maioria das pessoas continue assim mesmo depois de adulto.
Talvez a mágica do zagueiro seja essa. Lutar contra o inevitável. Ou talvez seja só loucura mesmo. O que importa é que a insubmissão aos valores ordinários deixa tudo mais difícil e a recompensa é que se torna muito mais gratificante.
Não é o fato de jogar na defesa que torna alguém zagueiro. Ser zagueiro ultrapassa o simples ato de se posicionar atrás no campo e marcar o atacante adversário. A essência do zagueiro consiste no seu porte, nos seus atos e a maneira de encarar cada jogada que ele disputa. O zagueiro não teme e não faz truque circense. É altivo, forte e dominador. Sabe que ali é ele que manda, tem total controle sobre o seu território, como um macho alfa.
O verdadeiro zagueiro impõe respeito.

Os verdadeiros zagueiros:

Jaap Stam

Holandês, 1,91 de altura e adepto da camisa 3. Stam faz o melhor estilo feo, furte y feroz. Infelizmente, se aposentou aos 35 anos com a camisa do Ajax em 2007. Stam jogou pela Lázio, Milan, Manchester United, seleção holandesa, dentre outros. É impossível um cidadão brutalmente forte com mais de 1,90 de altura não ser altivo. Ele dominava qualquer jogada e qualquer atacante como um adestrador faz com suas foquinhas amestradas. Qualquer um pensa dez vezes antes de encarar uma dividida com Stam. Não obstante, Stam também sabia jogar com a bola no pé. Tinha qualidade técnica para sair jogando, tanto é que às vezes era aproveitado na lateral direita.


Rolando Schiavi

Rolando Carlos Schiavi. Um homem, dois títulos e quatro finais de Libertadores, um mundial interclubes, duas copas sulamericanas, dois campeonatos argentinos e uma noite de paixão com Sandra Bullock. Schiavi é a personificação do espírito copero y peleador que é exclusividade do cone sul. Catimba, provocação, falta, cartões, gols de cabeça e penaltis decisivos.. o repertório de Schiavi é vasto, ele domina todos os recursos do zagueiro ideal. Para disputar quatro finais de libertadores, tem que ser muito homem. E a cada jogo Schiavi mostra que com ele não tem frescura. Gênio da malícia, tem o completo domínio da defesa. Schiavi marcou época no Boca Juniors do início dos anos 2000, quando inclusive marcou o seu na disputa de penaltis contra o Milan em 2003 na decisão do mundial. Kaká (o virgem) sentiu o peso da mão de Schiavi em sua carinha de garoto propaganda da Armani.
Recentemente o ídolo Schiavi teve seu talento reconhecido por Maradona e se tornou o jogador mais velho a estrear pela seleção argentina, com 36 anos (a idade do Xerife). Todos esperam que Schiavi vá a próxima copa do mundo, já que ele foi titular nas últimas duas partidas e vire figurinha brilhante no album da Copa.
No vídeo que eu fiz do Schiavi, são demonstrados momentos de magia dele catimbando, batendo, desarmando, fazendo gols de cabeça... enfim, fazendo que ele sabe fazer de melhor. Schiavi devia ser eterno, é um jogador macho, viril, enérgico que não atura gracinha e não perde tempo de jogo com frescuras. É um futebol clássico, bem jogado, com sede de vitória, dá gosto de ver. Se você prefere ver o Cristiano Ronaldo passar o pé por cima da bola, vai tomar no cu e saia imediatamente daqui. Isso não é futebol, é atração de circo, showzinho. Futebol é Schiavi.
Rolando Schiavi, um dos maiores zagueiros em atividade. Que nos brinda com lances de impressionante magnitude. Não vi Figueroa nem De León, mas vi Schiavi.
Este argentino de 1,91 é muita experiência, muita história pra contar. Não se destaca por técnica apurada, mas por ser o que um zagueiro deve ser. Sério e sempre impondo sua presença. Chutão pra frente, tapa na cara, provocação, faltinhas necessárias indispensáveis e gols de cabeça. Isso é Schiavi.


Paolo Montero

Dono da camisa 4 e capitão da seleção uruguaia. Essas credenciais já são suficientes para exaltar qualquer um. Como se não bastasse, durante seus nove anos de Juventus ele consquistou o título de jogador com mais expulsões na história da primeira divisão do campeonato italiano. Esse fato por si só fundamenta várias verdades. A primeira é que os sulamericanos são mais machos que os europeus. A segunda é que o Montero não brincava em serviço, o cara era violento. A raça uruguaia ele elevada a sua mais alta potência. Montero com seus singelos 1,78 se tornava um gigante imbatível entre as quatro linhas. Enquanto deixavam que ele permanecesse entre elas.

Gamarra

Carlos Gamarra é um zagueiro que concilia duas coisas que normalmente não se dão bem. Desarme e gentileza. Enquanto Montero é um muro de arame farpado, com cachorros selvagens loucos, artilharia pesada dentre outras coisas intimidadoras e dolorosas que servem para proteger, Gamarra é um moro que pede com a maior polidez, por gentileza, para o atacante não tentar o transpor. Caso tente, Gamarra, educado como poucos, pega a bola com uma suavidade impressionante, parecendo ser fácil. Quando o atacante se dá conta, Gamarra está com a cabeça erguida dando um passe preciso. O paraguai fabrica bons zagueiros em escala industrial. Carlos Gamarra é tão gentil, encantador, garboso, nobre e delicado que durante uma Copa do Mundo ele não fez nenhuma falta! Nenhuma sequer! Em 1998, o Paraguai disputou quatro jogos na Copa da França e Gamarra não fez nenhuma faltinha. O cidadão mais desavisado deve imaginar que ele ficou no banco, jogou mal ou pouco. Mas pasmem, ele foi eleito o melhor defensor do Mundial. E não foi por viadagem da fifa de fair play, o cara jogou muito mesmo. A título de curiosidade, o Paraguai só tomou dois gols naquele mundial. Sendo o segundo sofrido na prorrogação contra a França, que viria a ser campeã.

Odvan

Odvan é um personagem folclórico. Ele pode não saber jogar bola (e realmente não sabe), mas tem 50% do que é necessário para ser um bom zagueiro. Ou para ser um zagueiro-zagueiro, como definiu Wanderley Luxemburgo. Ele é temido. Zagueiro que é temido anula praticamente metade dos atacantes frangos e medrosos que existem por aí. Quanto ele enfrentava alguém homem o bastante para partir pra cima dele, este corajoso jogador tinha que lidar com a brutalidade de Odvan. O que diminuia ainda mais o número de potenciais ameaças a meta que ele defendia.
Agora imaginem, se com 50% do necessário para ser um excelente zagueiro Odvan já chegou a seleção Brasileira, ganhou libertadores, disputou dois mundiais de clubes, ganhou dois brasileiros e uma Mercosul... imagina se ele tivesse uns 80%?
Lembro de ver um Sport e Vasco pelo Brasileiro de 2008, na última passagem de Odvan com a camisa do Vasco. Odvan entrou no segundo tempo e o repórter de campo falou momentos após Odvan entrar que os jogadores adversários estavam comentando assustados sobre o tamanho da trava da chuteira de Odvan. Isso é ser temido. Já conhecendo de quem se trata, eles provavelmente imaginaram aquelas travas rasgando suas canelas e provocando uma dor imensurável. Temei.

Paolo Maldini

Ele é italiano, ele é belo e joga como um lorde. De cabeça erguida e olhos verdes bem abertos, Maldini liderou o Milan e a seleção Italiana. Jogou em alto nível durante vinte anos, é com certeza um dos fenômenos do futebol. A Itália produz zagueiros como Antonius Stradivarius produzia violinos. Ambos tem uma qualidade superior e especial misteriosa e inimitável. Maldini é o filho pródigo dessa grei de defensores respeitáveis. É uma injustiça brutal e imperdoável nunca ter recebido o prêmio de melhor do mundo. Ele jogava dez vezes mais que o Cannavaro.

Emiliano Dudar

Dudar é com certeza o melho zagueiro que eu já vi com a camisa do Vasco. Ok, eu vi Mauro Galvão, mas nessa época eu não tinha noção de zaga. Eu queria ver bola na rede e pronto. Na verdade eu queria ver porradaria também, mas o principal era o gol.
Emiliano Dudar é argentino, tem mais de 1,90m, é clássico e forte. Tudo que qualquer um quer na sua zaga. Ele foi extremamente injustiçado no Vasco, ele é digno de contrato vitalício. O que prejudicou a passagem de Dudar pelo Vasco foi o excesso de confiança dele. Ele fazia partidas impecáveis, desarmes precisos, lançamentos perfeitos sempre de cabeça erguida, posicionamento ótimo e de vez em quando uma cagada monumental, como naquele jogo na argentina contra o Lanús em que ele tentou driblar o atacante na pequena área, perdeu a bola e o Vasco tomou o segundo gol. Infelizmente é isso que fica na cabeça dos torcedores, de fato é uma falha imbecil e marcante, mas o cara tinha muito crédito. Era gostoso ver o Dudar jogar, quando vinha um atacante de graça pra cima dele eu já abria um sorriso, era raro ve-lo perder uma dividida. Nunca me esqueço de um Vasco e Botafogo aonde o Zé Roberto veio com firulinha pra cima do Dudar, que tranquilamente esperou o atacante botar a bola pro lado pra travar a bola e sair jogando, enquanto o Zé Roberto rolou pra fora do campo até as placas de publicidade. Um exemplo da técnica do zagueiro argentino é o 999º gol do Romário, naquele 3 a 0 lindo contra o Flamengo. Dudar ergueu cabeça e lançou mais de 50 metros achando o Renato livre que cruzou pro Romário fazer.
Saudades eternas de Emiliano Dudar.

Diego Lugano
Um dos poucos machos a vestir a camisa do São Paulo. Uma frase do Lugano dita durante a Copa do Mundo de 2010 resume o futebol uruguaio, do qual ele é um exímio representante: "Eles quiseram nos ganhar na força. E na força ninguém nos vence." Recém chegado ao futebol brasileiro, Lugano já mostrou suas credenciais em um jogo contra o Atlético Paranaense na Arena da Baixada. Mario Sérgio, o nem um pouco inocente técnico do Atlético na época, chamou-o de canalha, cafajeste e bandido antes de pedir a saída do zagueiro uruguaio do Brasil, devido a uma entrada viril de Lugano sob um de seus irrelevantes jogadores que ficou com suspeita de traumatismo craniano.
Lugano é raça, força e seriedade. Não tem temor, não existe bola perdida e não tem pudor ou receio na hora de chegar pesado mesmo. É um xerifão típico de libertadores. Ele é a essência do zagueiro uruguaio. A entrada dele no Salas (http://www.youtube.com/watch?v=dRaygnmfzS8) em um São Paulo e River Plate pela Libertadores diz tudo. Chegada absurdamente forte porém na bola, o cara sabe desarmar como manda o figurino.
Sem brincadeiras, sem frescura e sem medinho.
Diego Lugano, joga uruguaio.

Luis Perea

O Perea é bandidão. Alto, magro e forte. Um tempo de bola impressinante, um alcance longínquo para o carrinho e uma força bruta concentrada em seu corpo magriça. Com suas magricelas pernas de garça, ele tem o tipo físico ideal para executar o bote da garça, que consiste em roubar a bola do adversário à distância, esticando sua perna de envergadura assutadora e prensando a bola quando menos esperam. Além de tudo é colombiano.

Rodrigo Meléndez

Ele costuma jogar de primeiro volante. Mas também atua como zagueiro e líbero. E mesmo posicionando-se na intermediária defensiva, ele é mais zagueiro que todos os zagueiros. O chileno Rodrigo Meléndez é sosia do escudo do próprio time. Devido a sua linhagem de 3.000 anos de descendência puramente indígena, percebe-se evidentemente que nenhum europeu jamais tocou nas matriarcas da família Meléndez. Não existe sequer um glóbulo vermelho não-indígena nas veias de Meléndez, o que o torna a essência, o estado puro, o tipo ideal do índio sulamericano. Meléndez joga sóbrio e faz o fácil com a bola no pé. Toque pro lado, cabeça erguida, quando se mostra oportuno um lançamento preciso... sem floreios, sem exageros. Sucinto como um volante deve ser. Filósofo do meio campo, quando sem a bola é visto em dois momentos: carrinhos cirúgicos e irrepreensíveis que quando não tiram a bola do domínio adversário, leva-o a lona. Quando em pé, é o inventor e principal executor da marcação abutre. A marcação abutre consiste em rodar o adversário como essa distinta ave faz com a carniça, esperando o ângulo e momento certos para dar o bote preciso.
Meléndez além de tudo tem o papo boleiro, o correr clássico, a camisa pra dentro e a austeridade de grande ícones do futebol romântico. Ve-lo em campo é como observar o futebol clássico em cores. Não vi Beckembauer, mas vi Meléndez.

Waldo Ponce

O arquétipo perfeito de zagueiro do cone sul. Assim que abri o pacotinho de figurinhas do álbum da Copa do Mundo 2010 e dei de cara com a foto do Ponce, olhando pra cima com a expressão de bravura digna de Che Guevara, cabelos longos e faixa preta, percebi que se tratava de um zagueiro diferenciado. Felizmente, acompanhei-o jogando contra o Flamengo alguns dias depois pela libertadores usando a camisa do Universidad Católica. E, meus amigos... que aula. Vagner Love não ganhava UMA dividida se quer. Desarmes duros e precisos, carrinhos majestosos. Além das qualidades básicas inerentes a um bom zagueiro latino, Ponce sabe bater na bola e tem um domínio eficiente. Além, é claro, dos gols de cabeça que consagram todo zagueiro. Xabi Alonso ainda lembra de Ponce toda a vez que sente uma dor no tornozelo.

Victorino

Mais um ídolo que o Flamengo fez questão de consagrar. Deixou a marca dele no Maracanã e ajudou a LA U na derrocada Flamenguista. Mas não só de gols marcantes e suados se constrói um zagueiro. Victorino honra a escola uruguaia. É bom na jogada aerea, forte nas dividias, cirúrgico nos carrinhos... um monstro na zaga. Seu cavanhaque de bode é a moldura do olhar de gavião que acerta a bola majoritariamente em seus carrinhos e botes. Por não ser muito alto, Victorino e rápido, isso o torna capaz de seguir os atacantes na corrida e sempre frustrar as tentativas de chute a gol ou cruzamento. Victorino se construiu na libertadores e chegou ao mundial pronto para fazer compor uma das zagas mais românticas da história das copas do mundo junto com Lugano, Scotti e Godín. Para estar entre estes, ainda como titular em diversas partidas, é preciso ter uma virilidade que só aquele cavanhaque é capaz de dar.

Andrés Scotti

Bruto. Scotti já era admirado por suas habituais participações na Copa Libertadores, quase sempre ratificadas com um singelo cartão amarelo ou vermelho dado pelo distinto senhor que porta um apito. Zagueiro da seleção uruguaia, alto e duro como um general em campo de batalha. Ganhou seu lugar aqui no panteão de ídolos defensivos, grandes jogadores que me inspiram e que eu carrego um pouco de cada um deles dentro de mim devido a sua última participação nas quartas de final da copa do mundo de 2010 ostentando a camisa 19 do Uruguai, substituindo ninguém menos que o capitão Diego Lugano. Esse parágrafo que escrevi sobre seu desempenho nesta partida justifica bem sua inclusão aqui: "Scotti é um zagueiro à moda antiga, do tipo que ainda "manda flores" aos atacantes. Alto, forte, bruto como uma pedra e não tem medo de cara feia. Scotti aliás, merece um capítulo a parte na história do jogo. Salvou três jogadas impressionantes, uma bola em que o atacante ganês dominou girando no meio da área, quase na marca do penalti, mas entre ele e a bola apareceu imponente e altaneiro Scotti para evitar o chute. Já na prorrogação, o assustador Arévalo faz uma lambança demente na área e perde a bola. Quem aparece de carrinho para bloquear do chute, arrumar a bagunça e ainda deixar uma marca roxa no tornozelo de Gyan? Scotti, claro. E por fim, em mais um lance capital, Scotti aparece antes do atacante ganês após um rebote do goleiro Muslera e evita que este finalize em direção ao gol desprotegido."

Reynoso

Ser zagueiro e capitão é uma combinação precisa. É como uma solução química, onde apenas 0,001% de erro fode tudo, havendo ainda a possibilidade razoável de explosão ou fedor perene. Eu não entendo nada de química, mas sei que é necessário um equilíbrio minucioso para obter determinadas soluções. Também é assim com a solução zagueiro-capitão. Essa combinação notável é composta por: moral no clube + história com o clube + identificação com a torcida + conhecimento tático + bastante brio + agressividade ou habilidade acima do comum + conhecimento de diversos xingamentos + olhar raivoso + força bruta. Transpondo isso para a linguagem química, com a ajuda da nossa especialista na questão Carla Diederichs, temos a seguinte equação:
(Mt + Ht).It + Ct + B³ + (CdX : Ag) + Hb > Cmn + Or + Fb
Ou pra quem prefere gráficos, algo assim:
Parece complexo, não? E é. Reynoso é um dos gênios da química que conseguiram condensar essa sofisticada solução com equilíbrio exato. Coisa para poucos e honrados jogadores.
Reynoso apareceu para os meus olhos na libertadores de 2009 com uma atitude de futebol romântico, aquela velha provocação à moda antiga que todos nós aplaudimos. No ápice da gripe suína, o mundo com medo, novos infectados aparecendo em todos os lugares, as primeiras mortes em decorrência da doença ocorrendo, enfim, nesse contexto meio caótico aonde o México, terra natal de nosso querido Reynoso apresentava o maior número de ocorrências da nova doença, era realizado no Chile uma partida entre Chivas e Everton pela primeira fase da libertadores. No segundo tempo, o zagueiro argentino (tinha que ser) Penco, do time chileno, teve a infeliz idéia de desestabilizar Reynoso chamando-o de leproso e infectado. Qual atitude uma pessoa normal teria? Ignoraria? xingaria de volta? chorava e contava pra mamãe? Visto que Reynoso não é um qualquer, tomou a atitude que só um zagueiro-capitão tomaria, espirrou, cuspiu e assoou o nariz na cara do sujeito. (risos).
Em meio a uma epidemia que preocupava o mundo, Reynoso simula querer passar a pretensa doença ao adversário. Isso demonstra que ele tem sangue nas veias, sangue quente. Como se não bastasse isso, Reynoso mais uma vez decide brindar-nos com o ar de sua glória e chega a um dos pontos mais altos da carreira de um jogador, a final de uma libertadores. Já sendo seguido com um olhar atencioso e carinhoso por todos os amantes do futebol-essência, conhecedores do seu currículo, alvo dos holofotes de quem busca algo mais que passes para o lado, truques de bichinhos amestrados e resmunguice. Os olhares a ele voltados foram recompensados com uma gama de carrinhos, desarmes e entradas duras. Olhares que ao verem espelhados em sua retina a imagem de Reynoso, em frente ao juiz, desferir na moita quatro cascudos nas costas de Rafael Sóbis pensaram ter visto o cume da exibição de Reynosos na partida. Porém, nunca se pode achar que um gênio esgotou suas possibilidades. Ao final da partida, após o derradeiro apito, Reynoso começa a querela. O grito de revolta e raiva do derrotado. O grito que ultrapassa a forma sonora e se manifesta também por socos e pontapés. Confusão devidamente instaurada no gramado do Beira-Rio, com direito a Bautista correndo atrás dos outros usando uma muleta como arma, e alguns hematomas como preço a se pagar por impedirem o capitão Reynoso de levantar os vinte quilos de esplendor e glória da taça libertadores.
Reynoso demonstra, mais uma vez, que tem sangue nas veias em meio a outros jogadores com veias entupidas de dinheiro. O dinheiro que o coração bombeia para todo o corpo e é a diretriz dos sentimentos deles, o dinheiro que irriga o cérebro e é a conduta de todo pensamento que de lá sai. Obrigado Reynoso.

Dedé

Quando você escuta a palavra "Dedé", o que lhe vem a mente? Um dos trapalhões ou um bichinho de pelúcia? Um bebê aprendendo a andar? Qualquer que seja a sua resposta, eu garanto que ela não seria "um príncipe ébano de 1,92cm que jamais cai em trombadas violentas e se impõe em todas as situações". Dedé é um exemplo de que daonde se menos espera pode sair algo brilhante. Confesso que nas primeiras atuações não encheram meus olhos castanhos, porém ao olhar cada dividida ganha, cada chute bloqueado, cada desarme certeiro, cada rebatida de bola, é impossível negar que Dedé é um dos principais responsáveis pela ascenção do Vasco no segundo semestre de 2010 se não for o principal. Atuações brilhantes em todo os jogos, uma entrega absoluta, uma altivez e sobreposição impressionantes sobre os atacantes. Dedé jogando é pura poesia, a arte de defender sob sua perspectiva mais institiva, sem requintes ou ornamentos, onde o vigor da imposição física e a exatidão da travada na bola, o roubar bruto do objeto de desejo do jogo cria uma beleza própria, inerente ao ato da destruição do propósito adversário. Já posso falar sem medo que Dedé é um ídolo.
Exemplo de um milagre do Deus Dedé pode ser visto no gif à esquerda. Alguém mais seria capaz disso?














Tuzzio

Não há nada mais belo que um carrinho gratuito do Tuzzio. Seus traços másculos, retos e brutos, como uma estátua talhada violentamente, são o espelho de seu futebol simples e objetivo. Zagueiro não pode ser mole, tem que ser um muro, e isso o Tuzzio é. Sempre abrindo os braços com suas costas largas servindo de escudo, com total domínio da situação, nunca sai perdendo na jogada. Um porte de zagueiro clássico, alto, esguio e bruto, pronto pra encarar qualquer parada, seja pelo alto, seja dando um carrinho-trator pra encerrar logo a discussão. Mais bonito que o carrinho gratuito do Tuzzio que tira o chão do adversário, são seus pênaltis batidos com uma violência ímpar, um pelotazo alto também conhecido como pênalti-coragem, porque ou é indefensável e vai rente ao travessão ou vai pra fora do Estádio.

Yepes

Mais um da velha guarda da zaga sulamericana. Na foto acima vemos Yepes fazer o que sabe de melhor, carinhos certeiros. Uma das habilidades mais preponderantes do futebol de Yepes é justamente esse carrinho rápido. Quando o atacante menos espera yepes dá um pulinho pra cima e mira as penas na bola (às vezes sobra pra um tornozelo também) e aí, amigo, um abraço. Como todo representante da Velha Guarda, Yepes não foi criado com essa onda hipócrita de ética demagoga e inócua de "ai, fazer falta é feio nhénhénhé vou contar pra mamãe". Falta faz parte do futebol e o Yepes sabe usar esse artifício com uma astúcia admirável. Pra que dar um pontapé grosseiro e ser expulso se apenas um encontrão já acaba com o ataque? O pontapé a gente guarda pra distribuir em momentos especiais, porque também faz parte do futebol. "Ah, mas futebol é arte, é passar o pé em cima da bola e equilibrar ela igual um animal adestrado no circo..". Tudo isso faz parte do futebol. A beleza, a violência, a irrerência, assim como essas coisas fazem parte da vida também. Criminalizar umas porradas de vez em quando é querer normatizar as paixões que entram em campo (não tô dizendo que se deva quebrar a perna de ninguém, embora alguns até mereçam, mas um roxos e inchados não matam ninguém) E Yepes sabe disso.


Cellay


O homem que parou Ibrahimovic. Desde pequeno, Cellay sonhava em ser um jogador de futebol enquanto chutava pedrinhas perto do trilho do trem, vestindo boina e suspensórios. Ao trocar sua vestimenta clássica pela camisa do Estudiantes, Cellay ganhou a notoriedade que merecia. Junto com Schiavi e Desábato, formou a zaga campeã da libertadores 2009, apelidade carinhosamente de "os três tenores", pois passavam o jogo todo fazendo suas respectivas chuteiras cantarem nos corpos adversários.
Título conquistado e los pincharratas foram designados para representar toda a américa do sul contra a equipe do Barcelona. Sobrenomes consagrados do futebol, com seus salários astronômicos e marketing gigantesco foram postos na frente de Cellay. Que não fraquejou em nenhum momento, anulando toda e qualquer jogada que Ibrahimovic tentasse. Já sem Schiavi, Cellay teve que preencher essa imensa lacuna com toda sua garra e categoria. E como os dilúvios e as torrentes que inundam todas as cavidades em que desaguam violentamente, Cellay se espalhou pelos buracos no campo, sendo um oceano que naufraga todas as aspirações bascas de chegar ao gol argentino.
Seriedade e força são as armas do obstinado Cellay. Agora no Boca Juniors, após ser testemunha da última temporada de Martin Palermo, tem em 2011 a oportunidade de reeditar a parceria de sucesso com Schiavi.







Menção Honrosas(caras que eu não vi jogar porém respeito imensamente):

Hugo de León
Bellini
Elias Figueroa
Franz Beckenbauer
Domingos da Guia
Djalma Santos