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quarta-feira, 4 de maio de 2011

O sonho de Cabañas

Salvador Cabañas, nosso grande herói, estava dormindo numa noite serena e estrelada em Assunção. Ele lembrava dos seus gols no Maracanã, onde derrotou a já "consolidada" equivocada e antecipadamente classificação da imunda corja vermelha e preta. Nos seus pensamentos lúdicos, ele rememorava cada expressão de decepção latente, quando a arrogância e a certeza viram dor, miséria e incredulidade. A felicidade no rosto de cada criança sul americana, o grito preso na garganta finalmente libertado, ensurdecendo cada pseudo-vencedor auto proclamado.
No sonho de Cabañas, cada equipe sulamericana, não importando seu país, sua história, seus heróis, deveria ter, ao menos uma vez, a glória de puxar o tapete vermelho brasileiro e deixa-los cair de cara na lama suja da derrota. Uma noite de surpresas, alegrias e superação para todos. Sem distinção de país, credo, títulos ou cores. Era essa a utopia de Cabañas.
Ao acordar, Cabañas foi assistir as partidas da libertadores. E assim que ele acaba de colocar seu suco de acerola em cima da mesa, o Inter abre o placar. Ele fica triste, sentia a vontade de estar lá no Beira Rio para liderar o Peñarol ao seu momento de quebra-pandeiros. Seu desânimo era evidente, mas ele conservava um brilho no olhar que somente os que acreditam na libertadores e sabem do que ela é capaz podem ter. Esse mesmo brilho das retinas de Cabañas iluminaram os cinco minutos da virada do Peñarol. Após isso, uma retranca exemplar, tipicamente uruguaia, do gênerio uruguayus retrancadus foi aplicada, para o desespero dos colorados. A libertadores tem memória de elefante, ela lembrou de cada gol cagado e cada classificação obtida nos gols fora de casa durante o ano passado. Ela cobrou caro. E o Inter, ineficaz, inerme e trancado pelas correntes amarelas e pretas, agonizou durante 40 minutos até desfalecer.
Cabañas sorriu. Já sentia que seu devaneio fora transposto ao real. Viu mais heróis serem consagrados e foi assistir os outros jogos sereno, com a sensação de dever cumprido. Mal podia imaginar que a libertadores é fiel com quem lhe honra, escutou suas preces e trabalhou para realizar o impossível.
Os azuis, munidos de Victorino e Montillo, duas bombas nucleares quando se trata de libertadores, entrou em campo em casa com a vantagem contra o Once Caldas. Parece que tem tudo a seu favor. Porém, isso é libertadores. Onde ser brasileiro é ruim e favorito pior ainda. O Once Caldas, sob a égide de Henao, faz dois gols e derruba a torre de babel brasileira. O imitador de saci rebolativo Rentería saiu vitorioso e o mar azul da torcida do Cruzeiro irá, novamente, sofrer tormentas de lágrimas. Nesse momento, com as mãos entrelaçadas e os olhos marejados, Cabañas ergue o rosto reluzindo a luz branca e pura da lua, agradecendo todos os desígnios divinos que conduziram o Once Caldas a vitória. Quando volta para frente de sua televisão, vê o placar em 1 a 0 para o Libertad, que necessita de mais um gol para chutar mais um brasileiro de volta pra casa. Cabañas está inquieto, começa a supor que está pedindo demais e abusando da benevolência dos Deuses a desejar mais um gol do Libertad. Os Deuses, às vezes tão cruéis e sádicos, mostram toda a sua complacência com quem lhe é devoto e pregador de suas palavras. Não dão apenas mais um gol do Libertad, mas sim dois. No momento em que a bola balança a rede do Fluminense pela terceira vez, a emoção de Cabañas transborda numa lágrima, que caí diretamente no escudo do Libertad em sua camisa. Eles estão abençoados. A vaga é deles.
Devido a todo esse furacão de emoções, Cabañas esqueceu que o Universidad Católica chutava cachorro morto no Chile e eliminava o Grêmio.
Uma noite onde todos os heróis bradassem a vitória em uníssono, quando as vitórias dispersas e dissonantes se juntassem numa só melodia. Esse era o sonho de Cabañas. Prontamente atendido pelos Deuses da Libertadores, em respeito a um de seus maiores sacerdotes nessa noite de quarta feira. O que estará guardado para o Santos?

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