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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os Zagueiros


Ser zagueiro é medir forças contra o mundo. O zagueiro sabe que há muito mais coisas em um campo de futebol do que fazer gol. Qualquer um que paga ingresso, vê o jogo em sua poltrona ou simplesmente quer fazer dinheiro às custas do futebol quer ver o gol. O gol é o objetivo óbvio, é o senso comum futebolístico. Todo mundo sabe que é bom fazer gol e que a bola na rede define o placar. Entretanto, para a tristeza de muitos, existe o zagueiro. O zagueiro destrói, acaba com a festa e trava uma batalha contra a própria essência do esporte que pratica. Isso é mágico. Todo zagueiro trava sua batalha longe dos holofotes. Aquele desarme perfeito, a antecipação que impede uma chance clara de gol, a cabeçada pra longe... nada disso aparece nos melhores momentos. Cada sobreposição do zagueiro é seguida por um lamento adversário e nem sempre ganha um agradecimento dos próprios torcedores. É aquela velha história, o atacante que perde três gols e faz um é héroi. O zagueiro que é impecável todo jogo e erra um corte, é vilão. Um bruto grosseiro e estúpido que faz besteiras na defesa e lá foi relegado por não conter habilidade suficiente para jogar no ataque. A mesma máxima vale para o goleiro. Este axioma clássico sintetiza bem a perspectiva banal referente aos zagueiros.
Não são valorizados como os atacantes, são mais injustiçados que exaltados. Não se vê zagueiro em outdoor nas ruas, não se vê zagueiro em jornal especializado em fofoca. Raramente alguma criança diz que quer ser zagueiro. Eu mesmo, quando era um projeto de humano dizia que queria ser atacante e fazer gol. Típico de criança que reproduz tudo o que enxerga pela frente querendo se auto-afirmar. É uma pena que a maioria das pessoas continue assim mesmo depois de adulto.
Talvez a mágica do zagueiro seja essa. Lutar contra o inevitável. Ou talvez seja só loucura mesmo. O que importa é que a insubmissão aos valores ordinários deixa tudo mais difícil e a recompensa é que se torna muito mais gratificante.
Não é o fato de jogar na defesa que torna alguém zagueiro. Ser zagueiro ultrapassa o simples ato de se posicionar atrás no campo e marcar o atacante adversário. A essência do zagueiro consiste no seu porte, nos seus atos e a maneira de encarar cada jogada que ele disputa. O zagueiro não teme e não faz truque circense. É altivo, forte e dominador. Sabe que ali é ele que manda, tem total controle sobre o seu território, como um macho alfa.
O verdadeiro zagueiro impõe respeito.

Os verdadeiros zagueiros:

Jaap Stam

Holandês, 1,91 de altura e adepto da camisa 3. Stam faz o melhor estilo feo, furte y feroz. Infelizmente, se aposentou aos 35 anos com a camisa do Ajax em 2007. Stam jogou pela Lázio, Milan, Manchester United, seleção holandesa, dentre outros. É impossível um cidadão brutalmente forte com mais de 1,90 de altura não ser altivo. Ele dominava qualquer jogada e qualquer atacante como um adestrador faz com suas foquinhas amestradas. Qualquer um pensa dez vezes antes de encarar uma dividida com Stam. Não obstante, Stam também sabia jogar com a bola no pé. Tinha qualidade técnica para sair jogando, tanto é que às vezes era aproveitado na lateral direita.


Rolando Schiavi

Rolando Carlos Schiavi. Um homem, dois títulos e quatro finais de Libertadores, um mundial interclubes, duas copas sulamericanas, dois campeonatos argentinos e uma noite de paixão com Sandra Bullock. Schiavi é a personificação do espírito copero y peleador que é exclusividade do cone sul. Catimba, provocação, falta, cartões, gols de cabeça e penaltis decisivos.. o repertório de Schiavi é vasto, ele domina todos os recursos do zagueiro ideal. Para disputar quatro finais de libertadores, tem que ser muito homem. E a cada jogo Schiavi mostra que com ele não tem frescura. Gênio da malícia, tem o completo domínio da defesa. Schiavi marcou época no Boca Juniors do início dos anos 2000, quando inclusive marcou o seu na disputa de penaltis contra o Milan em 2003 na decisão do mundial. Kaká (o virgem) sentiu o peso da mão de Schiavi em sua carinha de garoto propaganda da Armani.
Recentemente o ídolo Schiavi teve seu talento reconhecido por Maradona e se tornou o jogador mais velho a estrear pela seleção argentina, com 36 anos (a idade do Xerife). Todos esperam que Schiavi vá a próxima copa do mundo, já que ele foi titular nas últimas duas partidas e vire figurinha brilhante no album da Copa.
No vídeo que eu fiz do Schiavi, são demonstrados momentos de magia dele catimbando, batendo, desarmando, fazendo gols de cabeça... enfim, fazendo que ele sabe fazer de melhor. Schiavi devia ser eterno, é um jogador macho, viril, enérgico que não atura gracinha e não perde tempo de jogo com frescuras. É um futebol clássico, bem jogado, com sede de vitória, dá gosto de ver. Se você prefere ver o Cristiano Ronaldo passar o pé por cima da bola, vai tomar no cu e saia imediatamente daqui. Isso não é futebol, é atração de circo, showzinho. Futebol é Schiavi.
Rolando Schiavi, um dos maiores zagueiros em atividade. Que nos brinda com lances de impressionante magnitude. Não vi Figueroa nem De León, mas vi Schiavi.
Este argentino de 1,91 é muita experiência, muita história pra contar. Não se destaca por técnica apurada, mas por ser o que um zagueiro deve ser. Sério e sempre impondo sua presença. Chutão pra frente, tapa na cara, provocação, faltinhas necessárias indispensáveis e gols de cabeça. Isso é Schiavi.


Paolo Montero

Dono da camisa 4 e capitão da seleção uruguaia. Essas credenciais já são suficientes para exaltar qualquer um. Como se não bastasse, durante seus nove anos de Juventus ele consquistou o título de jogador com mais expulsões na história da primeira divisão do campeonato italiano. Esse fato por si só fundamenta várias verdades. A primeira é que os sulamericanos são mais machos que os europeus. A segunda é que o Montero não brincava em serviço, o cara era violento. A raça uruguaia ele elevada a sua mais alta potência. Montero com seus singelos 1,78 se tornava um gigante imbatível entre as quatro linhas. Enquanto deixavam que ele permanecesse entre elas.

Gamarra

Carlos Gamarra é um zagueiro que concilia duas coisas que normalmente não se dão bem. Desarme e gentileza. Enquanto Montero é um muro de arame farpado, com cachorros selvagens loucos, artilharia pesada dentre outras coisas intimidadoras e dolorosas que servem para proteger, Gamarra é um moro que pede com a maior polidez, por gentileza, para o atacante não tentar o transpor. Caso tente, Gamarra, educado como poucos, pega a bola com uma suavidade impressionante, parecendo ser fácil. Quando o atacante se dá conta, Gamarra está com a cabeça erguida dando um passe preciso. O paraguai fabrica bons zagueiros em escala industrial. Carlos Gamarra é tão gentil, encantador, garboso, nobre e delicado que durante uma Copa do Mundo ele não fez nenhuma falta! Nenhuma sequer! Em 1998, o Paraguai disputou quatro jogos na Copa da França e Gamarra não fez nenhuma faltinha. O cidadão mais desavisado deve imaginar que ele ficou no banco, jogou mal ou pouco. Mas pasmem, ele foi eleito o melhor defensor do Mundial. E não foi por viadagem da fifa de fair play, o cara jogou muito mesmo. A título de curiosidade, o Paraguai só tomou dois gols naquele mundial. Sendo o segundo sofrido na prorrogação contra a França, que viria a ser campeã.

Odvan

Odvan é um personagem folclórico. Ele pode não saber jogar bola (e realmente não sabe), mas tem 50% do que é necessário para ser um bom zagueiro. Ou para ser um zagueiro-zagueiro, como definiu Wanderley Luxemburgo. Ele é temido. Zagueiro que é temido anula praticamente metade dos atacantes frangos e medrosos que existem por aí. Quanto ele enfrentava alguém homem o bastante para partir pra cima dele, este corajoso jogador tinha que lidar com a brutalidade de Odvan. O que diminuia ainda mais o número de potenciais ameaças a meta que ele defendia.
Agora imaginem, se com 50% do necessário para ser um excelente zagueiro Odvan já chegou a seleção Brasileira, ganhou libertadores, disputou dois mundiais de clubes, ganhou dois brasileiros e uma Mercosul... imagina se ele tivesse uns 80%?
Lembro de ver um Sport e Vasco pelo Brasileiro de 2008, na última passagem de Odvan com a camisa do Vasco. Odvan entrou no segundo tempo e o repórter de campo falou momentos após Odvan entrar que os jogadores adversários estavam comentando assustados sobre o tamanho da trava da chuteira de Odvan. Isso é ser temido. Já conhecendo de quem se trata, eles provavelmente imaginaram aquelas travas rasgando suas canelas e provocando uma dor imensurável. Temei.

Paolo Maldini

Ele é italiano, ele é belo e joga como um lorde. De cabeça erguida e olhos verdes bem abertos, Maldini liderou o Milan e a seleção Italiana. Jogou em alto nível durante vinte anos, é com certeza um dos fenômenos do futebol. A Itália produz zagueiros como Antonius Stradivarius produzia violinos. Ambos tem uma qualidade superior e especial misteriosa e inimitável. Maldini é o filho pródigo dessa grei de defensores respeitáveis. É uma injustiça brutal e imperdoável nunca ter recebido o prêmio de melhor do mundo. Ele jogava dez vezes mais que o Cannavaro.

Emiliano Dudar

Dudar é com certeza o melho zagueiro que eu já vi com a camisa do Vasco. Ok, eu vi Mauro Galvão, mas nessa época eu não tinha noção de zaga. Eu queria ver bola na rede e pronto. Na verdade eu queria ver porradaria também, mas o principal era o gol.
Emiliano Dudar é argentino, tem mais de 1,90m, é clássico e forte. Tudo que qualquer um quer na sua zaga. Ele foi extremamente injustiçado no Vasco, ele é digno de contrato vitalício. O que prejudicou a passagem de Dudar pelo Vasco foi o excesso de confiança dele. Ele fazia partidas impecáveis, desarmes precisos, lançamentos perfeitos sempre de cabeça erguida, posicionamento ótimo e de vez em quando uma cagada monumental, como naquele jogo na argentina contra o Lanús em que ele tentou driblar o atacante na pequena área, perdeu a bola e o Vasco tomou o segundo gol. Infelizmente é isso que fica na cabeça dos torcedores, de fato é uma falha imbecil e marcante, mas o cara tinha muito crédito. Era gostoso ver o Dudar jogar, quando vinha um atacante de graça pra cima dele eu já abria um sorriso, era raro ve-lo perder uma dividida. Nunca me esqueço de um Vasco e Botafogo aonde o Zé Roberto veio com firulinha pra cima do Dudar, que tranquilamente esperou o atacante botar a bola pro lado pra travar a bola e sair jogando, enquanto o Zé Roberto rolou pra fora do campo até as placas de publicidade. Um exemplo da técnica do zagueiro argentino é o 999º gol do Romário, naquele 3 a 0 lindo contra o Flamengo. Dudar ergueu cabeça e lançou mais de 50 metros achando o Renato livre que cruzou pro Romário fazer.
Saudades eternas de Emiliano Dudar.

Diego Lugano
Um dos poucos machos a vestir a camisa do São Paulo. Uma frase do Lugano dita durante a Copa do Mundo de 2010 resume o futebol uruguaio, do qual ele é um exímio representante: "Eles quiseram nos ganhar na força. E na força ninguém nos vence." Recém chegado ao futebol brasileiro, Lugano já mostrou suas credenciais em um jogo contra o Atlético Paranaense na Arena da Baixada. Mario Sérgio, o nem um pouco inocente técnico do Atlético na época, chamou-o de canalha, cafajeste e bandido antes de pedir a saída do zagueiro uruguaio do Brasil, devido a uma entrada viril de Lugano sob um de seus irrelevantes jogadores que ficou com suspeita de traumatismo craniano.
Lugano é raça, força e seriedade. Não tem temor, não existe bola perdida e não tem pudor ou receio na hora de chegar pesado mesmo. É um xerifão típico de libertadores. Ele é a essência do zagueiro uruguaio. A entrada dele no Salas (http://www.youtube.com/watch?v=dRaygnmfzS8) em um São Paulo e River Plate pela Libertadores diz tudo. Chegada absurdamente forte porém na bola, o cara sabe desarmar como manda o figurino.
Sem brincadeiras, sem frescura e sem medinho.
Diego Lugano, joga uruguaio.

Luis Perea

O Perea é bandidão. Alto, magro e forte. Um tempo de bola impressinante, um alcance longínquo para o carrinho e uma força bruta concentrada em seu corpo magriça. Com suas magricelas pernas de garça, ele tem o tipo físico ideal para executar o bote da garça, que consiste em roubar a bola do adversário à distância, esticando sua perna de envergadura assutadora e prensando a bola quando menos esperam. Além de tudo é colombiano.

Rodrigo Meléndez

Ele costuma jogar de primeiro volante. Mas também atua como zagueiro e líbero. E mesmo posicionando-se na intermediária defensiva, ele é mais zagueiro que todos os zagueiros. O chileno Rodrigo Meléndez é sosia do escudo do próprio time. Devido a sua linhagem de 3.000 anos de descendência puramente indígena, percebe-se evidentemente que nenhum europeu jamais tocou nas matriarcas da família Meléndez. Não existe sequer um glóbulo vermelho não-indígena nas veias de Meléndez, o que o torna a essência, o estado puro, o tipo ideal do índio sulamericano. Meléndez joga sóbrio e faz o fácil com a bola no pé. Toque pro lado, cabeça erguida, quando se mostra oportuno um lançamento preciso... sem floreios, sem exageros. Sucinto como um volante deve ser. Filósofo do meio campo, quando sem a bola é visto em dois momentos: carrinhos cirúgicos e irrepreensíveis que quando não tiram a bola do domínio adversário, leva-o a lona. Quando em pé, é o inventor e principal executor da marcação abutre. A marcação abutre consiste em rodar o adversário como essa distinta ave faz com a carniça, esperando o ângulo e momento certos para dar o bote preciso.
Meléndez além de tudo tem o papo boleiro, o correr clássico, a camisa pra dentro e a austeridade de grande ícones do futebol romântico. Ve-lo em campo é como observar o futebol clássico em cores. Não vi Beckembauer, mas vi Meléndez.

Waldo Ponce

O arquétipo perfeito de zagueiro do cone sul. Assim que abri o pacotinho de figurinhas do álbum da Copa do Mundo 2010 e dei de cara com a foto do Ponce, olhando pra cima com a expressão de bravura digna de Che Guevara, cabelos longos e faixa preta, percebi que se tratava de um zagueiro diferenciado. Felizmente, acompanhei-o jogando contra o Flamengo alguns dias depois pela libertadores usando a camisa do Universidad Católica. E, meus amigos... que aula. Vagner Love não ganhava UMA dividida se quer. Desarmes duros e precisos, carrinhos majestosos. Além das qualidades básicas inerentes a um bom zagueiro latino, Ponce sabe bater na bola e tem um domínio eficiente. Além, é claro, dos gols de cabeça que consagram todo zagueiro. Xabi Alonso ainda lembra de Ponce toda a vez que sente uma dor no tornozelo.

Victorino

Mais um ídolo que o Flamengo fez questão de consagrar. Deixou a marca dele no Maracanã e ajudou a LA U na derrocada Flamenguista. Mas não só de gols marcantes e suados se constrói um zagueiro. Victorino honra a escola uruguaia. É bom na jogada aerea, forte nas dividias, cirúrgico nos carrinhos... um monstro na zaga. Seu cavanhaque de bode é a moldura do olhar de gavião que acerta a bola majoritariamente em seus carrinhos e botes. Por não ser muito alto, Victorino e rápido, isso o torna capaz de seguir os atacantes na corrida e sempre frustrar as tentativas de chute a gol ou cruzamento. Victorino se construiu na libertadores e chegou ao mundial pronto para fazer compor uma das zagas mais românticas da história das copas do mundo junto com Lugano, Scotti e Godín. Para estar entre estes, ainda como titular em diversas partidas, é preciso ter uma virilidade que só aquele cavanhaque é capaz de dar.

Andrés Scotti

Bruto. Scotti já era admirado por suas habituais participações na Copa Libertadores, quase sempre ratificadas com um singelo cartão amarelo ou vermelho dado pelo distinto senhor que porta um apito. Zagueiro da seleção uruguaia, alto e duro como um general em campo de batalha. Ganhou seu lugar aqui no panteão de ídolos defensivos, grandes jogadores que me inspiram e que eu carrego um pouco de cada um deles dentro de mim devido a sua última participação nas quartas de final da copa do mundo de 2010 ostentando a camisa 19 do Uruguai, substituindo ninguém menos que o capitão Diego Lugano. Esse parágrafo que escrevi sobre seu desempenho nesta partida justifica bem sua inclusão aqui: "Scotti é um zagueiro à moda antiga, do tipo que ainda "manda flores" aos atacantes. Alto, forte, bruto como uma pedra e não tem medo de cara feia. Scotti aliás, merece um capítulo a parte na história do jogo. Salvou três jogadas impressionantes, uma bola em que o atacante ganês dominou girando no meio da área, quase na marca do penalti, mas entre ele e a bola apareceu imponente e altaneiro Scotti para evitar o chute. Já na prorrogação, o assustador Arévalo faz uma lambança demente na área e perde a bola. Quem aparece de carrinho para bloquear do chute, arrumar a bagunça e ainda deixar uma marca roxa no tornozelo de Gyan? Scotti, claro. E por fim, em mais um lance capital, Scotti aparece antes do atacante ganês após um rebote do goleiro Muslera e evita que este finalize em direção ao gol desprotegido."

Reynoso

Ser zagueiro e capitão é uma combinação precisa. É como uma solução química, onde apenas 0,001% de erro fode tudo, havendo ainda a possibilidade razoável de explosão ou fedor perene. Eu não entendo nada de química, mas sei que é necessário um equilíbrio minucioso para obter determinadas soluções. Também é assim com a solução zagueiro-capitão. Essa combinação notável é composta por: moral no clube + história com o clube + identificação com a torcida + conhecimento tático + bastante brio + agressividade ou habilidade acima do comum + conhecimento de diversos xingamentos + olhar raivoso + força bruta. Transpondo isso para a linguagem química, com a ajuda da nossa especialista na questão Carla Diederichs, temos a seguinte equação:
(Mt + Ht).It + Ct + B³ + (CdX : Ag) + Hb > Cmn + Or + Fb
Ou pra quem prefere gráficos, algo assim:
Parece complexo, não? E é. Reynoso é um dos gênios da química que conseguiram condensar essa sofisticada solução com equilíbrio exato. Coisa para poucos e honrados jogadores.
Reynoso apareceu para os meus olhos na libertadores de 2009 com uma atitude de futebol romântico, aquela velha provocação à moda antiga que todos nós aplaudimos. No ápice da gripe suína, o mundo com medo, novos infectados aparecendo em todos os lugares, as primeiras mortes em decorrência da doença ocorrendo, enfim, nesse contexto meio caótico aonde o México, terra natal de nosso querido Reynoso apresentava o maior número de ocorrências da nova doença, era realizado no Chile uma partida entre Chivas e Everton pela primeira fase da libertadores. No segundo tempo, o zagueiro argentino (tinha que ser) Penco, do time chileno, teve a infeliz idéia de desestabilizar Reynoso chamando-o de leproso e infectado. Qual atitude uma pessoa normal teria? Ignoraria? xingaria de volta? chorava e contava pra mamãe? Visto que Reynoso não é um qualquer, tomou a atitude que só um zagueiro-capitão tomaria, espirrou, cuspiu e assoou o nariz na cara do sujeito. (risos).
Em meio a uma epidemia que preocupava o mundo, Reynoso simula querer passar a pretensa doença ao adversário. Isso demonstra que ele tem sangue nas veias, sangue quente. Como se não bastasse isso, Reynoso mais uma vez decide brindar-nos com o ar de sua glória e chega a um dos pontos mais altos da carreira de um jogador, a final de uma libertadores. Já sendo seguido com um olhar atencioso e carinhoso por todos os amantes do futebol-essência, conhecedores do seu currículo, alvo dos holofotes de quem busca algo mais que passes para o lado, truques de bichinhos amestrados e resmunguice. Os olhares a ele voltados foram recompensados com uma gama de carrinhos, desarmes e entradas duras. Olhares que ao verem espelhados em sua retina a imagem de Reynoso, em frente ao juiz, desferir na moita quatro cascudos nas costas de Rafael Sóbis pensaram ter visto o cume da exibição de Reynosos na partida. Porém, nunca se pode achar que um gênio esgotou suas possibilidades. Ao final da partida, após o derradeiro apito, Reynoso começa a querela. O grito de revolta e raiva do derrotado. O grito que ultrapassa a forma sonora e se manifesta também por socos e pontapés. Confusão devidamente instaurada no gramado do Beira-Rio, com direito a Bautista correndo atrás dos outros usando uma muleta como arma, e alguns hematomas como preço a se pagar por impedirem o capitão Reynoso de levantar os vinte quilos de esplendor e glória da taça libertadores.
Reynoso demonstra, mais uma vez, que tem sangue nas veias em meio a outros jogadores com veias entupidas de dinheiro. O dinheiro que o coração bombeia para todo o corpo e é a diretriz dos sentimentos deles, o dinheiro que irriga o cérebro e é a conduta de todo pensamento que de lá sai. Obrigado Reynoso.

Dedé

Quando você escuta a palavra "Dedé", o que lhe vem a mente? Um dos trapalhões ou um bichinho de pelúcia? Um bebê aprendendo a andar? Qualquer que seja a sua resposta, eu garanto que ela não seria "um príncipe ébano de 1,92cm que jamais cai em trombadas violentas e se impõe em todas as situações". Dedé é um exemplo de que daonde se menos espera pode sair algo brilhante. Confesso que nas primeiras atuações não encheram meus olhos castanhos, porém ao olhar cada dividida ganha, cada chute bloqueado, cada desarme certeiro, cada rebatida de bola, é impossível negar que Dedé é um dos principais responsáveis pela ascenção do Vasco no segundo semestre de 2010 se não for o principal. Atuações brilhantes em todo os jogos, uma entrega absoluta, uma altivez e sobreposição impressionantes sobre os atacantes. Dedé jogando é pura poesia, a arte de defender sob sua perspectiva mais institiva, sem requintes ou ornamentos, onde o vigor da imposição física e a exatidão da travada na bola, o roubar bruto do objeto de desejo do jogo cria uma beleza própria, inerente ao ato da destruição do propósito adversário. Já posso falar sem medo que Dedé é um ídolo.
Exemplo de um milagre do Deus Dedé pode ser visto no gif à esquerda. Alguém mais seria capaz disso?














Tuzzio

Não há nada mais belo que um carrinho gratuito do Tuzzio. Seus traços másculos, retos e brutos, como uma estátua talhada violentamente, são o espelho de seu futebol simples e objetivo. Zagueiro não pode ser mole, tem que ser um muro, e isso o Tuzzio é. Sempre abrindo os braços com suas costas largas servindo de escudo, com total domínio da situação, nunca sai perdendo na jogada. Um porte de zagueiro clássico, alto, esguio e bruto, pronto pra encarar qualquer parada, seja pelo alto, seja dando um carrinho-trator pra encerrar logo a discussão. Mais bonito que o carrinho gratuito do Tuzzio que tira o chão do adversário, são seus pênaltis batidos com uma violência ímpar, um pelotazo alto também conhecido como pênalti-coragem, porque ou é indefensável e vai rente ao travessão ou vai pra fora do Estádio.

Yepes

Mais um da velha guarda da zaga sulamericana. Na foto acima vemos Yepes fazer o que sabe de melhor, carinhos certeiros. Uma das habilidades mais preponderantes do futebol de Yepes é justamente esse carrinho rápido. Quando o atacante menos espera yepes dá um pulinho pra cima e mira as penas na bola (às vezes sobra pra um tornozelo também) e aí, amigo, um abraço. Como todo representante da Velha Guarda, Yepes não foi criado com essa onda hipócrita de ética demagoga e inócua de "ai, fazer falta é feio nhénhénhé vou contar pra mamãe". Falta faz parte do futebol e o Yepes sabe usar esse artifício com uma astúcia admirável. Pra que dar um pontapé grosseiro e ser expulso se apenas um encontrão já acaba com o ataque? O pontapé a gente guarda pra distribuir em momentos especiais, porque também faz parte do futebol. "Ah, mas futebol é arte, é passar o pé em cima da bola e equilibrar ela igual um animal adestrado no circo..". Tudo isso faz parte do futebol. A beleza, a violência, a irrerência, assim como essas coisas fazem parte da vida também. Criminalizar umas porradas de vez em quando é querer normatizar as paixões que entram em campo (não tô dizendo que se deva quebrar a perna de ninguém, embora alguns até mereçam, mas um roxos e inchados não matam ninguém) E Yepes sabe disso.


Cellay


O homem que parou Ibrahimovic. Desde pequeno, Cellay sonhava em ser um jogador de futebol enquanto chutava pedrinhas perto do trilho do trem, vestindo boina e suspensórios. Ao trocar sua vestimenta clássica pela camisa do Estudiantes, Cellay ganhou a notoriedade que merecia. Junto com Schiavi e Desábato, formou a zaga campeã da libertadores 2009, apelidade carinhosamente de "os três tenores", pois passavam o jogo todo fazendo suas respectivas chuteiras cantarem nos corpos adversários.
Título conquistado e los pincharratas foram designados para representar toda a américa do sul contra a equipe do Barcelona. Sobrenomes consagrados do futebol, com seus salários astronômicos e marketing gigantesco foram postos na frente de Cellay. Que não fraquejou em nenhum momento, anulando toda e qualquer jogada que Ibrahimovic tentasse. Já sem Schiavi, Cellay teve que preencher essa imensa lacuna com toda sua garra e categoria. E como os dilúvios e as torrentes que inundam todas as cavidades em que desaguam violentamente, Cellay se espalhou pelos buracos no campo, sendo um oceano que naufraga todas as aspirações bascas de chegar ao gol argentino.
Seriedade e força são as armas do obstinado Cellay. Agora no Boca Juniors, após ser testemunha da última temporada de Martin Palermo, tem em 2011 a oportunidade de reeditar a parceria de sucesso com Schiavi.







Menção Honrosas(caras que eu não vi jogar porém respeito imensamente):

Hugo de León
Bellini
Elias Figueroa
Franz Beckenbauer
Domingos da Guia
Djalma Santos

1 comentários:

petespartan300 disse...

vascaíno !!!!!!!!!!! fulero

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